Existe obeso fitness e saudável?

Essa pergunta não deveria ser polêmica, mas se tornou no mundo de hoje em que pessoas confundem necessidade de autoafirmação com problema de saúde. Falei sobre isso em um post chamado “Obesidade não é uma questão de estética nem de empoderamento”. Mas ainda existia algo em aberto, o paciente acima do peso, que faz atividades físicas e tem seus exames aparentemente normais. Poderia ser considerado saudável e conviver com seus quilos extras sem medo ou culpa? Foi o que um estudo publicado na semana passada na revista European Journal of Preventive Cardiology, tentou analisar. Foram observadas mais de 500.000 pessoas que foram divididas em 3 grupos de peso: normal, sobrepeso e obesos e em 3 grupos de atividades físicas: sedentários, pouco ativos e fisicamente ativos. Fazer atividades físicas para pessoas com obesidade ou sobrepeso em qualquer intensidade se relacionou a menor risco de diabetes, hipertensão e colesterol elevado, fatores de risco cardiovasculares já conhecidos, se comparados àqueles que estão acima do peso e são sedentários. Até aí sem novidades. Porém, quando esses mesmos indivíduos eram comparados com outros de peso normal, sendo todos fisicamente ativos, o que se viu foi que o risco de hipertensão foi 2x maior nos portadores de sobrepeso e 5x maior entre os obesos. Já o aumento de colesterol foi 1,6x maior naqueles com sobrepeso e 2x maior nos obesos e diabetes foi 1,3x maior no grupo com sobrepeso e 3,6x maior entre obesos. Em resumo, você pode ter obesidade ou sobrepeso e ser fitness, isso reduzirá seu risco cardiovascular, mas dificilmente será tão bom quanto um indivíduo de peso normal e igualmente fitness. Sem contar outros problemas relacionados a obesidade que não comentamos, como dores articulares, refluxo gastroesofágico, câncer etc. Óbvio que há pessoas com peso normal e uma condição clínica pior do que muitos obesos, mas em se tratando de saúde como um todo, não basta apenas se exercitar, é preciso perder peso para que se consiga o máximo benefício.

Obesidade não é uma questão de estética e nem de empoderamento

Sei que muitos que me acompanham já estão carecas de saber que obesidade é uma doença complexa e que pode levar a mais de outras 200 doenças, algumas bem graves. Diabetes, hipertensão arterial, apneia obstrutiva do sono, pancreatite, varizes e tromboses, depressão, vários tipos de cânceres…enfim, obesidade é um sério problema de saúde que deveria ser abordado e priorizado em toda a consulta médica, certo? Mas não é bem assim que ocorre e digo mais. Nos dias de hoje, a depender do paciente ele pode até se ofender ao ser questionado a respeito do seu pesoVivemos um período em que todos queremos ser aceitos como somos, independente de raça, religião, opção sexual, estado civil, profissão e aparência física, e isso é muito bom, e é mais precisamente nesse último ponto que eu gostaria de chegar. Concordo que é abominável a discriminação que as pessoas que estão acima do peso sofrem, desde bullying e piadas de mau gosto, até o extremo de serem segregadas no trabalho ou preteridas em seus relacionamentos por não se encaixarem em um determinado padrão de beleza, como se fosse um opção pessoal ser obeso e não uma doença. Entretanto, discordo daqueles que querem levantar bandeira tentando simplificar a obesidade como uma mera questão de identidade pessoal ou apenas de aparência e que devemos nos aceitar como somos. É quase como deixar que um paciente fique com o diabetes descontrolado como se fosse apenas uma característica dele. Isso é muito errado pois ignoramos todo o âmbito da saúde e colocamos uma barreira entre o paciente e o médico. O primeiro passa a acreditar que está tudo bem ser desse jeito e o segundo fica com receio de parecer ser preconceituoso ao propor ao seu paciente perder peso. Para finalizar, que fique claro que isso é muito diferente de querer impor um peso ideal quase impossível de ser atingido. Qualquer perda de peso representa ganho de saúde e deve sim ser comemorado como uma grande conquista!

Quem não pode fazer dieta cetogênica?

A dieta cetogênica, sem dúvida, é uma das mais populares e seguidas por quem deseja perder peso de maneira rápida e eficaz.⠀Essa dieta consiste em reduzir drasticamente o consumo de carboidratos para menos de 50g ao dia em média. Nessa situação, a energia dos carboidratos se esgota rapidamente e a produção de insulina praticamente fica zerada.⠀Quando a insulina baixa, é ativada a enzima lipase sensível a hormônio, que libera de maneira intensa as reservas de gordura que servirão de combustível para o organismo, o que resulta em intensa perda de peso. Parte dessa gordura liberada é convertida em cetona pelo fígado, pois certos órgãos, como o cérebro, não são capazes de utilizar gorduras diretamente, daí o nome dieta cetogênica.⠀De fato, a perda de peso da dieta cetogênica pode impressionar, mas para muitos não é nada fácil de ser feita.⠀Sintomas como fraqueza, dores de cabeça, alterações de humor, mau hálito, são comuns e podem ser intensos. Além disso, para um grupo de pessoas, ela não deve ser seguida pois oferece graves riscos à saúde, são eles:⠀???? Portadores de insuficiência hepática, cardíaca e renal;???? Gestantes e mulheres que estão amamentando;???? Crianças e adolescentes em fase de crescimento;???? Idosos frágeis;???? Diabéticos tipo 1 e alguns diabéticos tipo 2 dependentes de insulina;???? Portadores de doenças cardiovasculares recentes, como infarto e acidente vascular cerebral;???? Em transtornos psiquiátricos graves, como esquizofrênicos, depressivos graves e bipolares;???? Portadores de bulimia e anorexia nervosa;???? Ácido úrico não controlado, principalmente naqueles com histórico de gota e cálculos renais;???? Alcoólatras e dependentes de drogas???? Usuários de diuréticos e de corticoides;???? Doentes com câncer que estão em tratamento. Para os demais a dieta cetogênica pode ser considerada, porém jamais feita sem o devido acompanhamento do médico e do nutricionista, pois a redução agressiva de carboidratos pode também diminuir muito o aporte de certas vitaminas e minerais e desnutrir o paciente.