Considerações sobre a vacina contra COVID-19
Não há assunto que seja mais debatido hoje do que a vacina contra COVID-19. São muitas dúvidas, inseguranças e equívocos que surgem e que nos deixam confusos. Os estudos até aqui não são os ideais, visto que o seguimento dos vacinados ainda é curto, não temos plena certeza de quanto tempo durará o efeito da vacina e as pesquisas deveriam ter englobado maior número de idosos, doentes crônicos, crianças etc. Porém, estamos diante de uma calamidade e é necessário sermos mais rápidos e práticos. Seremos muito lentos se esperarmos obter todas as respostas, que podem demorar anos para vir, e muito mais vidas serão perdidas. Em todo caso, temos alguns pontos que podemos confiar. Primeiro, todas as vacinas que completaram a fase 3 dos estudos mostraram-se seguras. Essa é a fase final das pesquisas, em que a vacina é testada em um grande grupo de pessoas. Tais estudos são importantes para aumentar as chances de detectar efeitos colaterais mais graves e, no caso da vacina, foram bastante raros, bem menor do que o risco de ter uma grave complicação pelo vírus. Com relação a eficácia, nenhuma vacina foi capaz de imunizar 100% das pessoas, mas todas reduziram quase que completamente as formas mais graves de COVID-19 que podem levar ao óbito, e isso já é uma vitória. As taxas de imunização entre as diferentes vacinas variaram entre 50% a 90%, o que significa que ainda teremos o vírus circulante. Uma pessoa poderá contrair o COVID-19 de forma mais branda e ainda será capaz de transmitir a doença, daí a importância de vacinarmos o maior número de pessoas possíveis. Caso contraia a doença, ao menos será mais leve. Enquanto ainda persistir esse grande contingente de pessoas não vacinadas e vulneráveis, não devemos baixar a guarda e as medidas de proteção deverão ser mantidas. Por fim, não dá para esperar uma vacina ideal. Quanto maior a demora em se vacinar, mais rápida será a replicação do vírus e maiores as chances de surgirem formas resistentes ao esquema atual de tratamento.
Dexametasona contra COVID-19 salva vidas, mas há riscos.
Enfim, uma boa notícia na guerra contra o COVID-19. Recentemente um estudo britânico chamado Recovery (Randomised Evaluation of COVID-19 Therapy) que envolveu cerca de 11.500 pacientes, mostrou que o uso de dexametasona em pacientes graves que necessitaram de uso de oxigênio reduziu a mortalidade entre 20% a 35%, o que é um número considerado muito bom! A dexametasona é um medicamento da classe dos corticosteroides, que atuam como potentes anti-inflamatórios utilizados em várias situações clínicas. No caso da infecção por COVID-19, ele reduz a resposta inflamatória exagerada do sistema imunológico contra o vírus, que é o que acaba por destruir o tecido pulmonar e leva a formação de coágulos e obstrução da passagem de sangue pelo órgão. Essa é uma grande notícia, sem dúvida nenhuma, e ainda há a vantagem desse medicamento poder ser amplamente utilizado em UTIs, por ser barato e de fácil acesso. Porém, antes que alguém pense em ir agora a uma drogaria para comprar dexametasona sem receita, insisto: não façam isso!!! Como disse antes, esse medicamento só mostrou benefícios em pacientes críticos e cabe somente a equipe médica decidir qual paciente deverá tomar dexametasona. A automedicação pode trazer sérios riscos à saúde. Em primeiro lugar, a dexametasona também é um imunossupressor e seu uso em quadros mais leves pode ter o efeito contrário, deixar o indivíduo mais vulnerável a quadros infecciosos mais graves. A ideia no seu uso é reduzir a reação inflamatória exagerada grave e não diminuir a imunidade por completo. Além disso, os corticosteroides podem aumentar a glicemia nos diabéticos, piorar a hipertensão arterial e levar ao ganho de peso, que também são fatores de risco para agravamento da infecção por COVID-19. Portanto, saber que temos um medicamento que pode nos salvar no limite entre a vida e a morte nos traz alívio, mas seu uso deve ser bastante criterioso, somente em pacientes internados graves e jamais em uso domiciliar, muito menos utilizado por conta própria.
Tireóide e Coronavirus: Posicionamento Oficial
Recentemente a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) publicou um posicionamento oficial sobre os cuidados que os portadores de doenças da tireóide devem ter diante da pandemia por COVID-19, visto ser esse um questionamento bastante comum entre os pacientes. Assim podemos afirmar:⠀???? Portadores de hipotireoidismo e hipertireoidismo NÃO fazem parte do grupo de risco para agravamento do quadro de COVID-19, mesmo que a causa da doença seja auto-imune (Tireoidite de Hashimoto ou Doença de Graves);⠀???? As medidas restritivas que seus portadores devem seguir são as mesmas da população geral e orientadas pelo Ministério da Saúde, ressaltando-se a necessidade de se manter um bom controle da doença;⠀???? Se necessário procure o endocrinologista para possíveis mudanças no tratamento baseado em alterações clínicas e laboratoriais, não havendo necessidade de ajustes de dose da medicação no caso de o paciente contrair infecção por COVID-19;⠀???? Nos casos de maior gravidade por COVID-19 em que haja a necessidade de internação, é importante que a equipe médica responsável seja informada que o paciente é portador de doença da tireóide e qual a medicação e dose vem utilizando;⠀???? A grande maioria dos portadores de Câncer de Tireóide, que foram submetidos a cirurgia seguida ou não por tratamento com iodo radioativo, não fazem parte do grupo de risco para agravamento da infecção por COVID-19 e não necessitam de cuidados adicionais em seu tratamento além do habitual;⠀???? Portadores de Câncer de Tireóide avançado, com metástases para órgãos, especialmente para pulmões e aqueles em uso específico de medicamentos para o câncer (Sorafenibe, Levantinibe e Vandetanibe) pertencem ao grupo de maior gravidade e devem manter-se em isolamento social, seguir as medidas de higiene indicadas pelas autoridades de saúde e manterem contato com seu médico.⠀Que todos possam manter a calma e serenidade nesse momento. Juntos iremos superar esse momento difícil de nossas vidas!
