Prevista para ser lançada até o final do mês de agosto/2020,02 Liraglutida, cujo nome comercial será Saxenda®, vem com a promessa de ser um importante aliado no combate à obesidade, principalmente depois da proibição por parte da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) do uso de uma série de medicamentos para tratamento da obesidade e pela demora na regulamentação e liberação de novos fármacos já utilizados em outros países. Polêmicas à parte se estas foram às melhores decisões, isto acabou por limitar em muito as possibilidades terapêuticas no Brasil.
Na realidade a Liraglutida não é nenhuma novidade por aqui. Ela atualmente é vendida com o nome comercial de Victoza® e foi lançada inicialmente para o tratamento de Diabetes Tipo II há cerca de 4 anos. Entretanto, estudos posteriores demostraram que a medicação também é eficaz no auxílio à perda de peso, inclusive em não-diabéticos.
Liraglutide é um análogo de um hormônio intestinal chamado GLP-1, cujos efeitos sobre o controle de peso são: ação direta sobre área do cérebro chamada de hipotálamo, que regula a fome e a termogênese, além de promover retardo no esvaziamento do estômago e intestino, levando a uma sensação de saciedade mais prolongada.
E qual a diferença entre a Liraglutida do Saxenda® para do Victoza®?
Nenhuma, exceto a dosagem apresentada. Ambas são administradas por via subcutânea através de uma caneta e agulha uma vez ao dia. A diferença é que, enquanto a caneta do Victoza® tem três ajustes de doses para aplicações (0,6, 1,2 e 1,8 mg), a do Saxenda terá ajuste para mais duas maiores (2,4 e 3,0 mg). Isto porque, foi demonstrado melhores resultados quanto a perda de peso em doses superiores as utilizadas por diabéticos. É possível, entretanto, aplicar duas vezes o Victoza® para administrar miligramagem adicional (1,8 + 1,2 mg), porém há o inconveniente da aplicação de duas injeções. Quando o Saxenda® for lançado, será possível aplicar esta dose em uma única injeção.
Quanto esperar de perda de peso com o uso da Liraglutida?
De acordo com estudos populacionais conduzidas pelo laboratório responsável, ao longo de 56 semanas (aproximadamente 1 ano), a perda de peso média no grupo que utilizou Liraglutida em dose máxima foi de cerca de 9% do peso inicial, em comparação ao grupo placebo, que perdeu cerca de 3%, o que foi estatisticamente significativo. Importante ressaltar que, em ambos os grupos, foi proposto um programa nutricional e de atividades físicas.
Por exemplo, para um paciente com cerca de 90 kg ao início do tratamento, é esperado uma perda de peso média de 8,1 kg em um ano. Este é um valor médio e, devemos considerar que muitos pacientes já tentaram perder peso de diversas formas, porém sem sucesso, e outros provavelmente perderão ainda mais do que a média.
Conforme os estudos demonstraram, 1 em cada 3 pacientes perdeu mais de 10% do peso neste período (mais do que a média, portanto), 3 em cada 5 pacientes eliminou mais de 5% do peso e cerca de 90% dos pacientes obtiveram alguma diminuição de peso. Após um ano de tratamento, os pacientes continuaram a perder peso, em média mais 6,2% do peso inicial, além daquele peso que já haviam emagrecido no primeiro ano de tratamento, o que representa uma redução média de peso de 15% ao longo de todo este período. Sem dúvida, um resultado a ser considerado.
Quais os principais efeitos colaterais da Liraglutida?
O principal efeito colateral da Liraglutida são náuseas ou enjoos, em média 1 em cada 4 pacientes terá este efeito adverso que, geralmente é minimizado pelo uso de medicações para náuseas e através do aumento gradual da dose (não se recomenda iniciar o uso com dose máxima logo de início). Outros efeitos colaterais comuns são diarreia, obstipação intestinal (“prisão de ventre”), dor de cabeça, estufamento e dor abdominal leve, que predominam no início do tratamento e tendem a desaparecer após algumas semanas ou meses de uso.
O efeito colateral mais temido é a pancreatite, que é uma inflamação grave no Pâncreas, com risco de infecção, hemorragia e necrose do órgão, podendo levar a óbito se não diagnosticada e tratada rapidamente. Entretanto, este efeito colateral é muito raro. Orientamos os pacientes que usam esta medicação a procurar um médico caso apresente quadro de dor intensa na parte superior do abdômen e vômitos.
Um inconveniente com relação ao uso da Liraglutida é o fato da medicação ser injetável, o que gera um certo receio de dor entre os pacientes. Porém, com o uso de agulhas ultrafinas de comprimento entre 4 a 6 mm, o desconforto da picada é mínimo e bem tolerado.
Liraglutida pode ser dado a pacientes hipertensos ou que usam medicações psiquiátricas controladas?
Em princípio, não há restrições ao seu uso nestes grupos de pacientes. Inclusive, esta é uma vantagem da medicação, pois algumas das medicações utilizadas para o tratamento da obesidade tem ação sobre neurotransmissores no Sistema Nervoso Central e podem levar a piora de certas doenças psiquiátricas, além de poderem promover aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Será, sem dúvida, uma opção interessante para estes grupo de pacientes que apresentam restrições ao uso das medicações mais comuns para obesidade.
Liraglutida parece bastante promissora, mas não será para todos…
Talvez o fator mais importante que irá limitar o uso da Liraglutida deverá ser o preço. Não há valor definido ainda pelo laboratório, mas tomando por base o preço do Victoza®, cujo preço atual é de aproximadamente R$ 400,00 por mês em sua dose máxima de 1,8 mg ao dia, é esperado que o custo na dose de 3,0 mg ao dia, considerada ideal para o tratamento de obesidade, ficará ainda mais elevado. Certamente neste início, somente uma minoria dos pacientes com excesso de peso poderá ter acesso ao produto.
Para finalizar, nunca é demais ressaltar que qualquer abordagem para excesso de peso deverá priorizar, antes de mais nada, um programa de mudança de estilo de vida que aborde reeducação alimentar e prática de atividades físicas. Não existe milagre! A medicação será complementar a estas mudanças e nunca deverá ser utilizada isoladamente. Somente o médico, preferencialmente especializado no assunto, é quem poderá prescrever este tratamento e acompanhar seu uso. Nunca o paciente deverá se auto-medicar.
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