A gestação é um momento muito especial, mas também delicado, onde diversas situações clínicas que acometem a mãe podem refletir negativamente sobre o feto. Dentre estas doenças, destacamos as doenças da tireóide que dividimos em dois grupos principais:
Hipotireoidismo e gestação
A deficiência de hormônios tireoidianos maternos, se não adequadamente tratada, pode trazer graves repercussões a gestação e ao desenvolvimento do feto, com aumento na incidência de parto prematuro, baixo peso ao nascer, descolamento de placenta, sofrimento fetal durante o trabalho de parto, atraso no desenvolvimento intelectual do bebê e, em casos extremos, até graves quadros de retardo mental.
O hipotireoidismo mal controlado relaciona-se também a maiores taxas de infertilidade materna e abortamento. É fundamental, portanto, que nas mulheres portadoras de hipotireoidismo que pretendam engravidar, a dose da levotiroxina (hormônio tireoidiano sintético utilizado para reposição) esteja acertada antes da concepção ou assim que o diagnóstico de gravidez for conhecido e jamais deve ser interrompida antes e durante a gestação!
A principal causa materna de hipotireoidismo, disparada, é de origem autoimune, chamada de Tireoidite de Hashimoto, onde anticorpos anômalos produzidos pelo sistema imunológico “atacam” a tireóide e levam à sua falência. A maioria das mulheres que tem esta doença já a possuem previamente à gravidez.
Entretanto, outro fator que deve ser levado em consideração é a deficiência de iodo na dieta, já que este elemento é essencial na síntese de hormônios tireoidianos. Estudos mostraram que é alta a frequência de baixos níveis de iodo em gestantes e isto também poderá aumentar o risco daquelas complicações já citadas, além de promover aumento significativo de volume da glândula tireóide materna, conhecido por bócio. É obrigatório que os polivitamínicos utilizados pelas gestantes contenham, no mínimo, 150 mcg de iodo, de acordo com recomendações da American Thyroid Association.
Hipertireoidismo e gestação
O outro grupo de doenças da tireóide que acometem a gestação está relacionado ao excesso de hormônios tireoidianos, também chamada de tireotoxicose. Duas são as principais causas: a Tireotoxicose Gestacional Transitória e a Doença de Graves.
A Tireotoxicose Gestacional Transitória é uma situação relativamente frequente e, na maioria dos casos, não traz maiores repercussões materno-fetais e não deve ser tratada. É uma situação que ocorre principalmente no primeiro trimestre da gestação mediada pelo estímulo do hormônio Beta-HCG, produzido pela placenta, que estimula a tireóide materna a produzir mais hormônios e é considerado fisiológico na maioria dos casos. É mais comum em gestações múltiplas (gemelares) e pode vir acompanhado por quadro de vômitos excessivos. As alterações laboratoriais costumam ser discretas, muitas vezes apenas com redução nos níveis de TSH.
Já o hipertireoidismo induzido por autoanticorpos que estimulam a tireóide a produzir hormônios em quantidades exageradas, chamada de Doença de Graves, é uma situação clínica mais rara, porém mais perigosa do que a anterior. Ela aumenta o risco nas grávidas de hipertensão gestacional com pré-eclâmpsia, eclampsia e insuficiência cardíaca, além de maior incidência de abortamento, parto prematuro, baixo crescimento do bebê, arritmias cardíacas fetais e no recém-nascido, descolamento de placenta, má-formações congênitas e óbito fetal. Nestes casos, o uso de medicamentos poderá ser indicado.
Em resumo, doenças da tireóide podem levar a graves complicações materno-fetais se não adequadamente tratadas e seguidas em conjunto por obstetra e endocrinologista. Nenhuma destas situações, todavia, é impeditiva para a realização do sonho de ter um bebê, mas é necessário à gestante se cercar de todos os cuidados necessários.
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