Obesidade: para diferentes formas de ganho de peso, diferentes tratamentos

Qual o melhor tratamento para perda de peso? Infelizmente não existe uma receita que sirva para todos, cada caso é um caso. Uma determinada medicação pode funcionar muito bem em um paciente e em um outro não ser efetiva. Se por um lado é difícil individualizar o tratamento, por outro é possível estabelecermos alguns padrões de ganho de peso que podem nos orientar a tomar uma melhor conduta do que apenas “chutarmos” qual medicação escolher. Dessa forma, um estudo publicado nesse mês na revista médica Obesity tentou estabelecer 4 diferentes padrões ou fenótipos para ganho de peso. Cada um recebeu uma diferente linha de tratamento e eles foram comparados com a terapêutica não baseada em qualquer protocolo. Foram assim divididos: 1- Fome Cerebral: indivíduos que fazem grandes refeições, também chamada de hiperfagia. Receberam combinação de Fentermina e Topiramato;2- Fome gastrointestinal: tem dificuldade de se manter saciados após uma refeição e poucas horas depois precisam comer novamente. Receberam a medicação Liraglutida;3- Fome emocional ou hedônica: caracterizada por humor negativo e necessidade de se recompensar com alimentos. Receberam combinação de Bupropiona e Naltrexone;4- Queimadores lentos: pacientes com baixo gasto energético em repouso, reduzido ritmo de atividade física e baixa massa muscular. Receberam Fentermina e intensificaram treino muscular de resistência. Em comparação ao tratamento não padronizado, a perda de peso foi 75% maior naqueles que seguiram esse protocolo. A perda de peso média no grupo padronizado foi de 16% em 1 ano contra 9% no grupo não padronizado. Importante destacar que 27% dos pacientes tinham mais de um fenótipo de ganho de peso e 15% não se encaixavam em qualquer um desses, o que mostra que mais estudos e com diferentes combinações de tratamento ainda são necessários. Além disso, não devemos utilizar esse protocolo como verdade absoluta e sair se automedicando, seria simplista demais pensar dessa forma. Consulte sempre um especialista.

Considerações sobre a vacina contra COVID-19

Não há assunto que seja mais debatido hoje do que a vacina contra COVID-19. São muitas dúvidas, inseguranças e equívocos que surgem e que nos deixam confusos. Os estudos até aqui não são os ideais, visto que o seguimento dos vacinados ainda é curto, não temos plena certeza de quanto tempo durará o efeito da vacina e as pesquisas deveriam ter englobado maior número de idosos, doentes crônicos, crianças etc. Porém, estamos diante de uma calamidade e é necessário sermos mais rápidos e práticos. Seremos muito lentos se esperarmos obter todas as respostas, que podem demorar anos para vir, e muito mais vidas serão perdidas. Em todo caso, temos alguns pontos que podemos confiar. Primeiro, todas as vacinas que completaram a fase 3 dos estudos mostraram-se seguras. Essa é a fase final das pesquisas, em que a vacina é testada em um grande grupo de pessoas. Tais estudos são importantes para aumentar as chances de detectar efeitos colaterais mais graves e, no caso da vacina, foram bastante raros, bem menor do que o risco de ter uma grave complicação pelo vírus. Com relação a eficácia, nenhuma vacina foi capaz de imunizar 100% das pessoas, mas todas reduziram quase que completamente as formas mais graves de COVID-19 que podem levar ao óbito, e isso já é uma vitória. As taxas de imunização entre as diferentes vacinas variaram entre 50% a 90%, o que significa que ainda teremos o vírus circulante. Uma pessoa poderá contrair o COVID-19 de forma mais branda e ainda será capaz de transmitir a doença, daí a importância de vacinarmos o maior número de pessoas possíveis. Caso contraia a doença, ao menos será mais leve. Enquanto ainda persistir esse grande contingente de pessoas não vacinadas e vulneráveis, não devemos baixar a guarda e as medidas de proteção deverão ser mantidas. Por fim, não dá para esperar uma vacina ideal. Quanto maior a demora em se vacinar, mais rápida será a replicação do vírus e maiores as chances de surgirem formas resistentes ao esquema atual de tratamento.

3 dúvidas mais comuns sobre medicamentos para colesterol

Uma situação comum que eu vejo no consultório é os pacientes abandonarem com frequência o tratamento medicamentoso para colesterol muito mais do que, por exemplo, os remédios para hipertensão e diabetes.Existem alguns motivos bem conhecidos que fazem os pacientes desistirem desses medicamentos, nesse caso falo mais especificamente das estatinas, como a rosuvastatina, sinvastatina, atorvastatina, entre outras. Um é o medo dos efeitos colaterais das estatinas. De fato, alguns são bem conhecidos e relativamente comuns como a dor muscular, que em alguns casos pode ser realmente incômoda, embora com uso de estatinas mais modernas esse sintoma seja mais difícil de ocorrer. O mais temido é o risco de as estatinas provocarem lesão renal grave com risco de falência do órgão. Entretanto, isso é extremamente raro de acontecer e era mais comum com a cerivastatina, que inclusive já foi retirada do mercado há anos, porém a fama de fazer mal para os rins permanece até hoje. Outra grande razão que leva os pacientes a deixarem de lado as estatinas parece ser um desconhecimento de como realmente elas funcionam. Estatinas não devem ser usadas somente para baixar o colesterol e depois retiradas. Esse medicamento é muito importante para reduzir o tamanho das placas de ateroma ou gordura que se depositam na parede das artérias. Porém, esse efeito demora muitos anos para ser notado e é necessário que o colesterol esteja controlado por um longo período para que seu benefício na redução do risco cardiovascular aconteça. Para finalizar, muitos não irão conseguir reduzir o colesterol somente com dieta. Cerca de 10% a 20% dos pacientes possuem uma das formas genéticas e familiares de aumento do colesterol. Geralmente suspeitamos dessa doença quando o aumento ocorre em pacientes com peso normal e dieta saudável, surge já na infância e, em muitos casos, com níveis bastante elevados. É muito importante o tratamento adequado pois é uma das principais causas de mortalidade cardiovascular em jovens.

O que você come altera o seu humor

Comer, sem dúvida, está entre os maiores prazeres da vida. Não só pelo sabor dos alimentos, mas porque o ato de comer geralmente está associado a bons momentos, como um encontro com amigos, um almoço em família ou simplesmente aquela pausa no trabalho para um lanche ou café.Para aliviarmos a tensão do dia-a-dia é comum irmos atrás de alimentos apetitosos, carregados de açúcares, gorduras e sódio, também chamados de hiperpalatáveis, na busca por aqueles minutos de felicidade que só uma coxinha ou um bolo de chocolate poderia nos dar. Mas você sabia que o consumo frequente desse tipo de comida pode com o tempo piorar o seu humor ao invés de melhorar? Alimentos ultra processados, ricos em açúcares e farinhas refinadas e gorduras saturadas aumentam a formação de radicais livres, o estresse oxidativo e a inflamação sobre os neurônios, o que acaba por alterar de forma negativa a função dessas células. De maneira simplista, é como dar gasolina batizada como combustível para nosso cérebro, o desempenho irá piorar. Além disso, esses alimentos podem diminuir a população de bactérias “do bem” da flora intestinal pelos mesmos mecanismos acima citados. Tais microrganismos auxiliam na produção do neurotransmissor serotonina, que é responsável por regular o sono, o apetite e nos deixarmos de bom humor. Estudos que compararam populações que consumiam dieta mediterrânea, rica em legumes, azeite, oleaginosas, grãos e peixes, dieta japonesa tradicional com aqueles que adotaram uma dieta ocidental baseada em alimentos ultra processados mostraram uma incidência de transtornos depressivos e de ansiedade de 25% a 35% maior nesses últimos. Quem já experimentou trocar esse tipo de dieta por uma mais saudável sabe do que estou falando. Em pouco tempo somos tomados por uma sensação de leveza e prazer duradouros, muito melhor do que aquela satisfação fugaz de comer qualquer guloseima que, com o tempo, cobrará um alto preço sobre nossa saúde física e mental. Como tudo na vida, moderação é essencial.

Arroz branco em excesso aumenta o risco de diabetes

Base da dieta do brasileiro e de vários povos do mundo, é difícil imaginar nosso prato sem arroz e seu parceiro inseparável o feijão. Existem vários tipos de arroz, integral, negro, selvagem, basmati, jasmine etc., mas o mais consumido não só aqui como no resto do planeta é o arroz branco polido. Apesar desse arroz ser produzido em larga escala, ser mais durável e de mais fácil estocagem, ele é um dos alimentos que mais elevam a glicemia após as refeições, o que acaba por forçar o pâncreas a produzir muito mais insulina para controlar a taxa de glicose e leva, com o passar dos anos, a sua sobrecarga, esgotamento e desenvolvimento de diabetes. Isso não quer dizer que devemos cortar o arroz branco da dieta e sim consumir com moderação. Então, qual quantidade de arroz poderia ser considerada nociva? De acordo com um estudo publicado esse mês na revista médica Diabetes Care que observou o padrão de consumo de arroz branco em diversos países do mundo, aqueles que consumiam 3 ou mais xícaras de arroz branco cozido ao dia (> 450 g de arroz), tiveram um risco 20% maior de desenvolver diabetes tipo 2 em comparação aqueles que consumiam no máximo uma xícara de arroz branco ao dia (< 150 g ao dia) ao longo de quase 10 anos de acompanhamento. Esse risco foi ainda maior em países do sul da Ásia, como Índia, Paquistão, Bangladesh e Nepal, que são os recordistas mundiais no consumo de arroz branco, em média 630 g ao dia e o risco de ter diabetes foi 61% maior. Apesar de hoje criticarmos o aumento do preço do arroz, ele ainda é considerado um produto barato, de tal forma que há uma relação entre aumento da pobreza e maior consumo proporcional de arroz em detrimento de outros alimentos. Portanto, é essencial termos refeições balanceadas, com carnes magras, feijões, legumes e vegetais, que irão diminuir o espaço do prato a ser preenchido pelo arroz branco. E, sempre que possível, opte pelo arroz em sua forma integral, que tem uma absorção de glicose menor do que o branco.

Obesidade não é uma questão de estética e nem de empoderamento

Sei que muitos que me acompanham já estão carecas de saber que obesidade é uma doença complexa e que pode levar a mais de outras 200 doenças, algumas bem graves. Diabetes, hipertensão arterial, apneia obstrutiva do sono, pancreatite, varizes e tromboses, depressão, vários tipos de cânceres…enfim, obesidade é um sério problema de saúde que deveria ser abordado e priorizado em toda a consulta médica, certo? Mas não é bem assim que ocorre e digo mais. Nos dias de hoje, a depender do paciente ele pode até se ofender ao ser questionado a respeito do seu pesoVivemos um período em que todos queremos ser aceitos como somos, independente de raça, religião, opção sexual, estado civil, profissão e aparência física, e isso é muito bom, e é mais precisamente nesse último ponto que eu gostaria de chegar. Concordo que é abominável a discriminação que as pessoas que estão acima do peso sofrem, desde bullying e piadas de mau gosto, até o extremo de serem segregadas no trabalho ou preteridas em seus relacionamentos por não se encaixarem em um determinado padrão de beleza, como se fosse um opção pessoal ser obeso e não uma doença. Entretanto, discordo daqueles que querem levantar bandeira tentando simplificar a obesidade como uma mera questão de identidade pessoal ou apenas de aparência e que devemos nos aceitar como somos. É quase como deixar que um paciente fique com o diabetes descontrolado como se fosse apenas uma característica dele. Isso é muito errado pois ignoramos todo o âmbito da saúde e colocamos uma barreira entre o paciente e o médico. O primeiro passa a acreditar que está tudo bem ser desse jeito e o segundo fica com receio de parecer ser preconceituoso ao propor ao seu paciente perder peso. Para finalizar, que fique claro que isso é muito diferente de querer impor um peso ideal quase impossível de ser atingido. Qualquer perda de peso representa ganho de saúde e deve sim ser comemorado como uma grande conquista!

Medicamentos para obesidade: por que são tão rejeitados?

É muito comum na minha prática clínica eu me deparar com a seguinte situação: paciente obeso, que apresenta complicações como pressão alta, diabetes, dores na coluna etc., e precisa emagrecer. Tentou várias dietas, atividades físicas e não perde peso. Nesse momento ofereço tratamento medicamentoso e eis que ele responde: “Doutor, eu não vou tomar esse remédio aí!” e conclui com um “é perigoso”, “vou engordar tudo de novo quando parar” ou “dessa vez vou conseguir sozinho!”. O curioso é que muitas vezes esse mesmo paciente pode estar com uma pressão de 180×100 e aceitar sem discutir uma receita de remédio para hipertensão, como se não houvesse relação entre a obesidade e o aumento da pressão. Por que os medicamentos para perda de peso são tão estigmatizados? Poucos são os que perdem peso com auxílio desses fármacos que admitem seu uso para amigos e familiares, parecem até que usam uma droga ilícita. Há várias razões, mas a principal é que a obesidade ainda não é reconhecida por muitos como uma doença, mas como uma escolha pessoal. Basta força de vontade que você conseguirá emagrecer, ignorando o fato de que há uma série de alterações hormonais, neuroquímicas, ambientais e genéticas por detrás do excesso de peso. Mas existem outros motivos para essa rejeição, alguns até válidos e outros nem tanto, como medo dos efeitos colaterais ou de ficar dependente, banalização para apenas fins estéticos por pessoas que não precisariam usar, histórico de proibição de medicamentos por efeitos adversos graves, preconceito de médicos de outras especialidades que não entendem como a doença se desenvolve, entre outros. Por isso é tão importante que o paciente procure um especialista que saiba lidar com essas questões. Em resumo, medicamentos para excesso de peso não fazem milagres e só devem ser prescritos em conjunto com reeducação alimentar e atividades físicas, mas são importantes armas no combate a essa doença complexa que pode levar a outras doenças graves e incapacitantes.